Texto de Otavio Ogando ao site Mesa Quadrada.com
Para que servem as torcidas organizadas?

Crônica para CMAs, TPIs, TFCs e PQPs
Por Otávio Ogando
Primeiro conheça os personagens
Máfia Azul – Principal torcida organizada de Minas. Nasceu em 1977. Possui comandos espalhados pela capital,interior do Estado e capitais do país. Em 2006, os lideres de cada comando se reuniram e decidiram romper com a diretoria. Sem criar uma oposição ou uma nova torcida, eles apenas mudaram o nome. A MÁFIA AZUL NÓS POR NÓS (REVOLUCÃO)surgiu com a união desses comandos. Já a tradicional MÁFIA AZUL CRU-FIEL FLORESTA (SEDE) perdeu apoio e presença.
TPI – Torcida Pavilhão se tornou independente da Máfia Azul em 1999. Quando perguntado sobre o porque da separação um representante da TPI me respondeu. ” Ah… brow…É muita treta… muito B.O… tá ligado!” Encrenqueiros, são conhecidos pela violência e não pelo dom das palavras.
TFC – Torcida Fanati-Cruz. Fundada em 1997 com este nome horrível, ficou conhecida pela sigla mesmo. O sucesso é fruto do fenômeno que renovou as torcidas pelo Brasil entre 2008 e 2009. Como a Loucos (Botafogo) ou o Movimento 105 (CAM) a torcida é basicamente formada por estudantes de classe média criada com o intuito de cantar o jogo inteiro como fazem os argentinos. Procura exaltar o clube mais que a própria torcida. Cresceu graças a um HIT, criou muitos outros e virou referência de criatividade na torcida do Cruzeiro. Tanto que quando surge uma música nova, primeiro repassam a ela. Ao contrário do M105, sobreviveu graças a um acordo de paz com a torcida principal. Hoje vive numa Guerra Fria em paz com a Máfia.
Agora que você as conhece, vou te contar uma história.
Cruzeiro x Flamengo, campeonato brasileiro de 2012. Estádio Engenhão. Público bom. O jogo terminou 1 x 1. De fato, não tínhamos o mesmo número de torcedores que o Flamengo, mas dava pra fazer barulho. Daria… Não deu.
Eu nunca tinha visto isso, mas éramos uma torcida visitante sem a mínima coesão. Pouco mais de mil pessoas, em um espaço pequeno e mesmo assim tínhamos três baterias de três organizadas diferentes, cada uma cantando as suas próprias músicas. Primeiro chegou a TFC e foi bem perto do campo. Depois veio a Máfia escoltada por alguns policias e ficou no fundo mais à direita. O jogo já havia começado quando um grupo maior da PM apareceu. Pouco depois surgiu a Pavilhão, altamente escoltada. E então começou a profusão de ritmos. Foi ali que eu percebi que alguma coisa estava muito errada no Cruzeiro. Algo que a polícia do Rio já sabia há tempos e que a PM de Minas parecia ignorar até hoje. A nossa torcida estava cada vez mais perigosamente dividida em pequenas gangues que não falavam a mesma língua.
E por todo ano de 2012 o Cruzeiro jogou no Independência. E o que era um absurdo acontecer fora de casa, também se repetia nesse minúsculo estádio. Cada um na sua, cantando uma música diferente, sem união. Parecia ser impossível ver de novo uma torcida do Cruzeiro uníssona.
Paralelamente, no dia 14 de junho de 2012, o Presidente Gilvan, logo em seu primeiro ano de mandato, decide cortar os ingressos gratuitos das organizadas. Uma decisão difícil mas muito importante para o clube.
”Vou convocar as diretorias das torcidas organizadas para conversar e explicar. A capacidade do estádio é pequena, e, em relação à quantidade de sócios do futebol, vai complicar. Quando estava jogando em Sete Lagoas não tinha problema, porque mantinha o estádio cheio. Agora não dá mais. Não seria justo tirar ingresso de sócio.”
Descontentes Máfia Azul e Pavilhão vão a toca da Raposa 2 protestar contra “a diretoria medíocre”.
E o que acontece?
Eles brigam entre si.
Enfim, veio o ano de 2013 e com ele a volta do Mineirão.
Estádio grande! Espaço para todos. Oportunidade para crescer os sócios. Montar um time forte.
Então o Presidente Gilvan convoca as torcidas a se filiarem. Cria uma modalidade especial para as organizadas. A Máfia decide permanficar atrás do gol, mais próximo ao gramado, no setor amarelo. A Pavilhão escolhe o outro lado, no setor laranja. A TFC opta pela parte superior mais ao centro do estádio. Foi perfeito! As baterias separadas ajudando a manter o estádio inteiro cantando.
Bem, o que não se esperava é que, apesar de estarem próximas ao gramado, as torcidas organizadas no anel inferior não encontraram acústica suficiente para comandar o estádio.
E as músicas que ecoam são aquelas puxadas pelos torcedores do Anel do superior. Ou seja, sou eu, você, seu amigo, aquele sócio desde 2009, sua namorada que não perde um jogo, a turma da geral celeste, a galera do movimento 320, e todos nós que as organizadas chamam de “povão”, os responsáveis por conduzir a festa hoje no Mineirão. E qual foi o resultado de um ano com todos no comando:
Crescimento impressionante do número de sócios de 7 mil para mais de 45 mil sócios. A maior média de público do campeonato. O Mineirão inteiro cantando junto novamente. E cantando músicas que nasceram dos sócios e viraram hits. Um caldeirão com aproveitamento de 79% dos pontos que nos trouxe de volta o troféu do Campeonato Brasileiro!
Seria o final perfeito se a Máfia Azul e a Pavilhão não brigassem de novo no clássico, fazendo o Cruzeiro perder um puto mando de campo. E como se não bastasse, no domingo contra o Bahia, as duas organizadas estragam toda da festa de comemoração do título!
Agora vale a reflexão sobre quem são esses brigões? Considerando que aquela briga idiota durante o jogo claramente não tem nenhuma relação com as organizadas, todas as outras se deram fora do Mineirão, certo? E como já havia muita gente esperando do lado de fora, a briga pode ter iniciado por gente que não estava no estádio. E não estavam no estádio porque não podem mais arcar com os custos dos ingressos, pois parte da torcida que frequentava o Mineirão, agora é excluída pela diretoria, recebendo ingressos só para jogos de visitante. Assim, inconscientemente eles prejudicam o Cruzeiro, porque se sentem prejudicados por ele. E daí a natureza de tanta revolta.
Agora soma-se a isso tudo as brigas de facções, disputas por território, músicas com apologia a violência e principalmente a idiotice humana, e temos novamente uma praça de guerra.
É por esse tipo de comportamento fora do controle que hoje gritar no Mineirão “Máfia Azul é o Terror”, causa quase tanto constrangimento como gritar Galo.
Também é obvio que nehum promotor de Justiça e nem o Ministério Público vai conseguir acabar com as organizadas. Elas são muito forte para isso. O que parece é que desse jeito elas vão acabar consigo mesmas.
Domingo foi a gota d’água.
E a união é a única saída.
A China Azul é uma só.
E o Mineirão é de todos.





Parabéns por copiar o texto do site Mesa Quadrada!
ResponderExcluirDemos os devidos créditos ao autor, e ao site.
ExcluirMuito bom
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